Words are spaces between us

A alma está para lá das palavras, encontra-se escondida nas vírgulas que separam os sentimentos latentes nas frases ditas inconscientemente.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Silêncio





Hoje falei de amor, não resisti e cometi o maior dos pecados testemunhados, ousei perante as minhas convicções estruturá-lo e construí-lo do nada, começar do princípio como se de uma lição se tratasse e tornei-o vivo dentro de mim, uma visão íntima reflectida na minha alma.
Aos poucos tornaste-te no meu ponto final, a interrupção das minhas divagações, e, por vezes, o parêntesis que acalmava o meu anseio e a minha inquietação, o momento de pausa que apagava o incêndio que lentamente destruía a minha harmonia, restando cinzas repletas de escuridão banhadas por insegurança e medo escondidos na penumbra das sombras que vagueiam em torno da minha mente, assombrando-me, tornando-me humana.
Voas, dás-me asas e deixas-me flutuar na imensidão do teu olhar, caminhar por entre os traços do teu corpo que procuro descobrir e decorar, abres-me o peito e deixas-me analisar o teu interior, a fraqueza humana que habita em ti e te torna no máximo expoente da contradição, dolorosamente perfeito, puramente Homem.
Hoje sei que foste o sentido máximo das minhas palavras, mesmo aquelas que procurei e não achei forma, tu estiveste sempre tatuado na minha vida, omnipresente no meu coração, o tudo fundido no vácuo que por tempos me refugiou, foste e és a minha resposta, pois é ao ver-te que encontro a justificação para a simples existência das lágrimas que molham a pele marcada do meu rosto, a dor que lateja fortemente no coração, é no teu amor que me descubro.
Ninguém ama ninguém e eu ousei amar-te, procurei em mim a força para lutar face às vicissitudes da vida, tentei abraçar em pleno o teu perfume, cristalizar o sentimento que se desenhou entre nós como um laço invisível que nos unia inconscientemente.
Lembras-te do tempo em que a nossa história era uma mera metáfora? Quando sentíamos tudo pela primeira vez, o contacto primordial do nosso olhar, a contemplação do nosso corpo que dançava ao sabor do vento que nos gelava os rostos. Nessas alturas desconhecia a paixão, o silêncio era testemunha dos meus pensamentos secretos que calava com medo do descontrolo, o espaço vago entre a realidade e a ilusão.
Sinto saudades tuas mesmo tendo-te guardado no bolso, procuro em vão descobrir aquilo que foste, o teu sorriso genuíno, a minha casa, o teu coração puro onde me refugiei e ao qual confiei o meu, coração cativo no coração, carne carne carne, mistura de hálitos, fusão lábios que se consomem tentando em vão satisfazer o desejo que cresce, que ocupa todo o espaço existente, corte de almas siamesas, amputação do laço, empurrão que nos fez cair e rever a realidade mais uma vez. Tudo já não és o que eras, não te conheço, provocas-me receio, não sei para onde vais, quererei eu seguir-te?
Foge, solta-me, grita em plenos pulmões, expulsa-me do teu mundo, eu não aguento viver num jogo contínuo, perder constantemente o resto que sobrou de mim. Eu apenas quero voltar a ser o que era, a dor constante de viver vazia, crua, mas humana, inteira como indivíduo. Não aguento que me desfaças sem saber, não suporto saber que não vejas a dor que me provocas com palavras simples que se revelam socos no meu estômago, um diálogo que abre em mim feridas extensas que me magoam, uma dor incapaz de ser curada.

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espírito crítico