Words are spaces between us

A alma está para lá das palavras, encontra-se escondida nas vírgulas que separam os sentimentos latentes nas frases ditas inconscientemente.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Disfemismo




Dói. Acima de tudo dói. O coração rompe-se em mil pedaços e pouco resta, são escassos os sentimentos que posso ainda testemunhar, deixei tudo fugir ao som da destruição daquilo que acreditei e vivi. Nada resta, somente o vácuo que preenche o espaço que um dia te cedi, na altura em que me ofereci, em que te dei a minha mão e com ela o meu corpo inteiro, eu, a minha imensa contradição e, no fundo, a minha pequena esperança que se revelou infinita no reflexo dos teus olhos que abraçaram a minha alma e desenharam nela o teu nome, uma caligrafia profunda e exacta, a tua marca em mim.
Hoje, os meus braços caem desmaiados, o cansaço, a desilusão, tu, desgastaram o que um dia esperei poder dar, tornaram toda a beleza do meu amor em pura fealdade. Finalmente desisti.
Perco-me em sonhos e pensamentos, uma mistura incapaz de ser separada, pois a nossa história foi feita de episódios vividos e muitos outros idealizados, uma narrativa puramente mágica que tanto se assemelha à realidade como se perde na incerteza do impossível. Sinceramente, agora que te vejo dentro do meu coração, que observo cada traço teu quando ainda eras tudo para mim, na altura em que significávamos tanto, concluo que tu mesmo és uma fantasia, a minha ilusão, um paraíso em pessoa, uma miragem onde me perco sem medos ou interrupções. Apenas te quero em pleno, quero-te, quero-te, desejo-te, quero-te. Quis-te tanto, desejei-te insaciavelmente.
São estes os momentos em que tomo consciência da minha condição humana, as chagas que contemplam o meu coração, o vazio que me fere incansavelmente, mostram-me que não sou intocável, é este sofrimento que (me) mata todo o sorriso que construí sempre que acreditei em ti e nos teus eufemismos que tornavam a realidade um mero pormenor no nosso amor, na história profetizada pelas nossas almas que um dia achei gémeas.
O nosso amor acabou, é certo, contra todas as minhas forças, face a tudo aquilo que fizeste sem noção do quanto me matavas, perante as estaladas que deste ao meu amor, foste tu quem me apagou. Com ele termina o mundo, todas as páginas da nossa história repleta de palavras cegas, de frases carregadas de algo que não existiu, uma doença que me contaminou, que me magoou a pele e a carne, todo o corpo, toda a mente, a peste que se apegou a mim e me tornou numa cidade deserta, vazia, onde apenas resta a tua sombra. Há tanto que desapareceste, minha cura.

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