Words are spaces between us

A alma está para lá das palavras, encontra-se escondida nas vírgulas que separam os sentimentos latentes nas frases ditas inconscientemente.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Jogo perigoso

"Devagar, o tempo transforma tudo em tempo. 




O ódio transforma-se em tempo, o amor 
transforma-se em tempo, a dor transforma-se 
em tempo.

(...)
por si só, o tempo não é nada. 




a idade de nada é nada. 
a eternidade não existe. 
no entanto, a eternidade existe. "


José Luís Peixoto, "Explicação da Eternidade"


Talvez tenhas razão quando dizes que palavras não bastam, os gestos falam por si e revelam a nossa essência, o núcleo da nossa alma e a vontade que temos em oferecer uma porção de nós àquele por quem quem nos perdemos no primeiro olhar verdadeiro, a análise interior que fazemos sem intenção, a pureza da sedução que nos leva a percorrer caminhos incertos e desconhecidos de olhos vendados, cegos pela paixão que nasce como chama e se alastra até se tornar num imenso incêndio que nos consome lentamente, deixando réstias de nós nos cantos do destino que espera do outro lado da porta do futuro.
Tenho de te encontrar mais uma vez, gritar-te de longe e tocar-te nesse mesmo momento, fundir a minha mão no teu peito e sentir em pleno o bater do teu coração, decorar os seus traços e as cicatrizes que carregas, as marcas da vida que te tornaram no que és hoje, o meu tudo. Quero poder segurar-te e ser o teu porto de abrigo que te prende ao mundo, a gravidade que te puxa e te leva a ser meu, a manter-te cativo a mim para sempre.
Estou a escrever à medida que ouço a nossa música, a melodia que em tempos contemplou o nosso espaço e as nossas almas, foi ela a minha companheira nos momentos em que me perdia em pensamentos, quando viajava longe em direcção a ti, à figura que me esperava do outro lado da estrada pronto para me abraçar e me mostrar um novo lugar, longe do mundo em que vivo constantemente, um espaço onde apenas existíamos nós e o nosso amor quente que aquecia as nossas almas sedentas de amor e paixão, que nos gastavam o coração de tamanhos batimentos descontínuos, denunciando o nervoso miúdo de estarmos nos braços um do outro, contemplando aquilo que há de mais belo, o nosso amado.
É verdade que nunca amei como te amei a ti, como poderia fazê-lo se foste tu o único capaz de me salvar do que sou, a resposta para todas as interrogações, a peça que faltava para completar o vazio que tinha aprendido a ser? Nunca pensei encontrar alguém como tu, amar-te da forma como o fiz e nego poder algum dia esquecer-te como os desconhecidos com quem nos cruzamos nas ruas, que passam, olham-nos e desaparecem como imagens extrínsecas à nossa realidade.
Todos nós conhecemos de ouvido o estalar do nosso coração, o momento em que este se rasga semelhante a uma folha de papel e se transforma em dois nadas sucumbidos pela força latente da dor, fragmentos de algo que nasceu inteiro e condenado a ser desmembrado.
Quantas vezes não me perdi nos momentos de choro constante, de palavras contidas e repetições do "porquê?", nestas alturas ousei racionalizar tudo o que até então tinha sido meramente fruto do meu inconsciente, produto natural e autêntico das minhas emoções e do lado animal e irracional encarcerado nas origens do Homem que sou. Cedo entendi que o amor nos arrasta para caminhos repletos de ilusões que chegam a roçar a alucinação, fantasias de tal forma desejadas cegamente que se tornam num objecto material ao qual pensamos ter acesso.
Eu sei que não posso amar-te, sempre que o faço parto mais uma parte do que sou, desapareço por momentos e todo o mundo é destruído, é consumido pelo fogo dos teus olhos. Participo neste jogo perigoso, atraio-te e torno-te também seu peão mas, invariavelmente, sou eu quem sai ferida, a única que sentiu cada segundo, cada tensão, cada gesto brusco com que me afastas e me atiras para o fundo do poço, carregado de vultos, sombras negras que se misturam e me tornam num ninguém, um nada rasurado pela penumbra da tua raiva.
Diz-me como apagar a tua voz, fazer desaparecer como por magia o teu perfume que se mistura nos meus objectos, as tuas impressões tatuadas na minha pele, conta-me como eliminar para sempre o teu testemunho na minha vida e faz-me desprezar-te, condenar-te por algo imperfeito em ti que desconheço, pois em ti só presenciei a perfeição no seu expoente máximo. Liberta-me de ti. 

1 comentário:

  1. Uau...
    Sem palavras...
    Muito bom mesmo...
    É um texto que nos prenda toda a atenção.
    Parabéns!

    se quiseres visitar o meu blog:
    http://mywondderland.blogspot.com

    Ps: Apocalyptica - Banda perfeita.

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