"Hoje compreendo os rios.
A idade das rochas diz-me palavras profundas,
Hoje tenho o teu rosto dentro de mim."
José Luís Peixoto, in "A Casa, A Escuridão"
Dou por mim seca de palavras, rasurada no íntimo, sinto negado o dom de poder transcrever para o papel o que está encarcerado na alma. Esta mudez diminui-me, torna-me um pequeno ser num mundo gigante que gira em torno do meu frágil corpo condicionado pela barreira que se impôs ao meu passo, prenderam-me os membros e hoje encontro-me exactamente no mesmo sítio que estive no passado, o velho rasto continua presente mas agora apenas carrega memórias desmembradas pelo vento polidor do tempo.
Pediste-me palavras, confissões de sentimentos que inconscientemente senti. Menti. Omiti. Criei um rasto de frases ensaiadas e perfeitas que deliciaram o teu coração e se tornaram melodia para os teus ouvidos. Escondi o sentimento limado, moldado pelos medos que construí durante o abraço em que me prendeste a ti e a tudo o que acreditavas ser nosso, fingi ignorar o sofrimento que me provocavas a cada silêncio, aprendi a manipular-me e tornar-me alguém externo, intocável pela minha alma ferida pelas mentiras com que construías o teu monólogo interior.
Em tempos concluí que tudo o que fazias era magia para os meus olhos, todo o compasso de pequenas perfeições apaixonavam-me e consumiam a minha alma que era alimento do amor que crescia de forma calma, sem pressas de futuros incertos ou fins premeditados, pois apenas o nosso universo importava, a solidão de apenas te ter no meu coração preenchia o vazio do meu espírito, tornava-me um vulto contemplado pela paixão ardente que queimava as minhas impressões, tornando-me num ninguém.
Aos poucos arrancaste pedaços de mim, o que eu pensei ser a fusão de dois seres predestinados, hoje vejo como a submissão de alguém que tentou acreditar num amor utópico, nas histórias contadas ao sabor da inocência que nos caracteriza durante a tenra idade, foi a crença que destruiu uma parte que um dia achei no interior do meu corpo.
Ouço ao longe o eco da tua voz passada que ainda hoje me aquece o coração, a familiaridade do teu tom amacia-me e por momentos esboça um sorriso na minha alma. Esta ganha forma e cor, o tom encarnado envolve-me e invade-me a saudade gelada que me esfria e arrepia consequentemente. A acústica massaja o meu cabelo, sussurra no meu ouvido palavras que achei esquecidas, limpa as lágrimas que escorrem pelo rosto que um dia apenas teve olhos para ti, a figura de uma amante que encontrou em ti a cura para a sua descrença no amor.
Gosto do que escreves! Estou a seguir-te! Beijinnho
ResponderEliminarGosto da forma como usas as palavras e transmites as emoções/sentimentos. Muito bom.
ResponderEliminartu escreves de uma forma, wow!
ResponderEliminargostei imenso do teu texto!
gosto muito do teu blog e dos teus post's, vou-te seguir, se me quiseres seguir estás à vontade (:
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