Words are spaces between us

A alma está para lá das palavras, encontra-se escondida nas vírgulas que separam os sentimentos latentes nas frases ditas inconscientemente.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Palavras gastas

"This is our last goodbye
I hate to feel the love between us die.
But it's over
Just hear this and then I'll go:
You gave me more to live for,
More than you'll ever know."

Jeff Buckley, Last Goodbye








Até hoje vivi cercada de ilusões, pequenas fantasias que preencheram a minha vida e o meu coração. Nos momentos de angústia foi a esperança na sua existência que sarou as minhas feridas abertas que sangravam a cada lágrima, foi o seu final feliz que desenhou em mim o sorriso nos momentos em que o céu abatia no meu chão, destruindo o castelo de cartas que eu era até então. Lembro de ver o destino como um caminho claro e simples, como as águas que revelam o que nelas se encontra inserido, a ignorância e inocência imperavam em cada gesto do meu pequeno corpo, infantil, crente na pureza do Mundo.

Ainda ontem acreditava no primeiro amor, na pessoa que no momento inesperado aparece e que com ela traz a tempestade de sentimentos, a insanidade, o amor louco e doente. Aquela que nos faz largar tudo sem reflectir ou olhar para trás, o significado da nossa existência, "the one". Pensava eu que bastava esta chegar até mim e eu a reconheceria, bastava um olhar, um reconhecimento e tudo seria claro na minha cabeça e no meu coração. Não haveriam interrogações, inseguranças, todas as barreiras criadas em torno do nosso amor iriam ser derrubadas pelo peso dos seus delicados dedos, a sua bravura seria capaz de desafiar o mais forte e cruel de todos os Homens e tudo acabaria bem, pois as histórias da minha infância, as que me adormeciam e me acompanhavam no mundo dos sonhos, acabavam sempre no "felizes para sempre", onde o sempre nunca fora alguma vez uma mera metáfora, para mim era real, uma premissa incontestável, verdadeira.
A verdade é que apareceste, invisível ao início, mais um figurante no meu Mundo, sem qualquer brilho ou paixão. No entanto, à medida que o tempo esgotava, abriste um caminho vazio em direcção a ti, invadiste o meu pensamento e fizeste dele a tua morada até ao dia em que atacaste o meu coração com tanta força que cheguei a pensar que sangrou, declarando guerra à minha razão e fazendo de mim tua, a escrava do teu amor.
Recordo tudo tão claramente que chego a arrepiar-me só de construir o filme de imagens captadas no nosso passado, todos os momentos que marcaram o nosso amor, os pequenos passos que nos levaram a amar, a encontrar aquilo que esperávamos serenamente, escondidos no armário prontos para sermos resgatados e levados ao encontro do nosso futuro a dois. Nunca imaginei que serias tu, na verdade eras um mero desconhecido, um peão no meu jogo de criança, alguém como tantos outros que não estava destinado a entrar na minha vida quanto mais no meu coração, serias apenas tu, eu não te conheceria nem saberia sequer da tua existência, farias parte da minha ignorância e em teu lugar viria outro, aquele a quem eu chamaria "primeiro amor".

5 comentários:

espírito crítico