Words are spaces between us

A alma está para lá das palavras, encontra-se escondida nas vírgulas que separam os sentimentos latentes nas frases ditas inconscientemente.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Ouvi dizer

"Em todo o lado essa palavra repetida ao expoente da loucura, ora amarga, ora doce.
Para nos lembrar que o amor é uma doença, quando nele julgamos ver a nossa cura."






A verdade é que até hoje caminhámos contra nós, tudo aquilo que acreditámos fielmente, fizemos de nós contradições, não apenas em palavras mas também em pensamentos. Demos as mãos nos momentos improváveis, fizemos dos nossos corpos o vento, fugindo quando na atmosfera imperava o desejo de amar, nos momentos em que o sentimento guiava os nossos passos, tornando a nossa mente doente de amor. Tornamo-nos viciados na paixão, no arrepio constante das peles sedentas, das bocas secas de melodia, do olhar cravado no fundo da alma.
Hoje caminho numa cidade vazia contemplada pelas feições claras das casas, pálidas, que morrem lentamente, uma morte de alma. Nada se encontra nela a não ser o vazio das sombras, das vozes a voarem pelo infinito, o eco dos batimentos latentes dos corações vivos, das gargalhadas que aqueciam o vento, dos olhares que paralisavam o tempo e o espaço.
Nada vejo a não ser o teu nome negro escrito a cada recanto, nos espaços que um dia foram nossos e naqueles que a nós nada dizem.  Ao fundo ouço restos da tua voz, da melodia que invadia a minha mente e se destinava ao meu coração, não sei o que dizes, mas entendo-te, cada sílaba proferida no culminar da saudade. Também a sinto, uma saudade negligentemente ignorada, que impera nos momentos de solidão, aqueles em que me resgatavas e me mostravas a luz da felicidade.
Custa deixar-te entrar, revelar-te tudo o que sou, não apenas as qualidades, mas os defeitos, a cruel realidade que todos nós escondemos no fundo do cofre, a que tememos como a morte. Ainda temo as palavras, a revelação omnipresente, o sentimento cego que ganha espaço a cada vitória face à Razão. Caminhas lentamente, recuando a cada medo, pacientemente me abraças, cativando-me no teu corpo, ouvindo aquilo que mais temes, o bater do meu coração. Proferes palavras doces, disfarçando o que te vai na alma, o que leio nos teus lábios secretamente, fugindo mais uma vez daquilo que já é certeza há muito.
Não há como apagar o que sentimos, eu sei, mas por vezes parece tão mais fácil ignorar que existes, quer dizer, que existe o que tenho para te oferecer, pois esta não é a nossa cura, é sim o caminho para o descontrolo, a fuga das regras que nós próprios impomos como humanos que somos, omitindo a fraqueza e tudo o que dela deriva.
Quero que me ouças atentamente, aquilo que te digo em meias palavras, suspiros e gargalhadas nervosas, na pressa de chegar a ti sem sentido, pois um dia quero ouvir-te dizer que ambos estávamos certos, que todo o paradoxo não foi um dia utopia, e que no futuro seremos nós, tudo aquilo que ambos sabemos mas que nem as palavras poderiam um dia exprimir.

9 comentários:

  1. Nem sempre caminhamos a nosso favor, "caminhamos contra nós" e, a dada altura, temos medo de no entregar, de mostrar cada pormenor nossa, seja uma qualidade ou um defeito. Sentimo-nos vulneráveis porque, para além de nós, haverá alguém a conhecer-nos melhor e temos medo que isso se torne arriscado.
    Só que, inevitavelmente, o que queremos fazer é entregarmo-nos, deixar esse alguém entrar, mostrar-lhe o que somos e caminhar na mesma direcção

    "não sei o que dizes, mas entendo-te"
    Adorei, como sempre. Esta muito, muito bom *.*

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  2. Olá...gostei muito do seu blog. Queria seguí-lo não tem como?
    Beijos

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  3. gostei imenso.
    já tinha saudades de ler os teus textos :$
    adorei (: beijinho

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  4. gostei muito, está muito bom, parabéns (: *

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