Words are spaces between us

A alma está para lá das palavras, encontra-se escondida nas vírgulas que separam os sentimentos latentes nas frases ditas inconscientemente.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Thank you

"o tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias,
como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo,
mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.
eram os teus olhos, labirintos de água, terra, fogo, ar,
que eu amava quando imaginava que amava. era a tua
a tua voz que dizia as palavras da vida. era o teu rosto.
era a tua pele. antes de te conhecer, existias nas árvores
e nos montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde.
muito longe de mim, dentro de mim, eras tu a claridade"

José Luís Peixoto




Perco conta das vezes em que procurei inspiração nas tuas escassas palavras, nas tentativas incessantes em prolongar um momento que sabia desde à partida estar condenado ao passado, ao esquecimento das horas que escorrem ao longo do tempo. Abraçava-te contra o peito, desejava ser tu para nunca testemunhar a dor da saudade, um sofrimento silencioso em que a minha alma era o seu alimento, desvanecia-me, tornava-me sombra de um sentimento que não possuía nome de tão perfeito, nessas alturas desejei morrer no teu olhar e renascer nos teus lábios, viver em ti, ser a perpetuação de nós num futuro que desconhecíamos mas que procurávamos conhecer juntos.
Hoje pergunto-me o que restou, talvez medo, o receio de te retornar a ver e nada ter mudado em mim, ser exactamente a mesma pessoa que viste à porta da tua vida, viver em mim um sentimento que nunca conheci mas que me acompanhou e que foi na tua ausência a minha companhia, desenhando o teu rosto no meu horizonte, libertando o teu perfume que em alturas foi o meu oxigénio mais desejado, o teu reflexo no meu coração.
O tempo flui à medida que procuro o meu lugar na casa que é o teu coração, um espaço entre o vazio frio que cresce à medida que os momentos se esgotam e a distância que escorre entre nós cresce, matando o medo de poder voltar a ver-te, a esperança de te reconhecer em mim. A noite acompanha a solidão, acorda o sofrimento e reabre feridas outrora cicatrizadas: o sangue a contemplar a pele do corpo cansado de dor e desilusão, um amor que pára em ti e cria tempestades suaves no meu peito que reacende sempre que a luz reaparece, a iluminação da tua presença fantasma, a cidade que és no mapa da minha existência.

As cordas cingem-nos os movimentos, as memórias rasuram o presente que procuro abraçar incansavelmente, é o passado que te torna o fantasma que assombra o meu peito, a maior mentira que cito incessantemente, a farsa de não te amar, a fantasia de te esquecer, a ilusão de viver sem ti.

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espírito crítico