Words are spaces between us

A alma está para lá das palavras, encontra-se escondida nas vírgulas que separam os sentimentos latentes nas frases ditas inconscientemente.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Em tempos o nada era o reflexo do teu rosto, a claridade do vazio a invadir os teus traços profundos que rasgam a tua pele suavemente, o invisível a emergir no teu corpo e tornar-te ninguém, um vulto morto e passageiro que viaja entre o nunca saber ser e o infinito de não conhecer a existência. Foi o vácuo a bater-te à porta, suplicando por entrar na casa da vida, a história criada entre mil olhares lançados ao destino perdido no universo que nos abraça, na narrativa que tu mesmo criaste e proferiste ao sabor do tempo que envelheceu as palavras e as tornou meramente sombras de sentido, cinzas do significado que ardeu com o fogo da dor de perder o que ainda restava, o pouco que guardaste entre os dedos, no centro da palma da mão com que destruíste a nossa pessoa.
Os meus olhos estão pesados como se a consciência os torna-se seu abrigo, uma vala indiscreta onde a incapacidade aterrou, escondendo-se da força que nos alimenta a vontade de seguir em frente, em amarrotar o passado como uma folha de papel. A escuridão assolou o brilho do meu olhar, hoje não passa de um fantasma que nada revela, o meu interior está oco como uma velha estátua largada aos sete ventos, envelhecida pela acidez das águas que a corroem, desfigurada, um rasto de tristeza que contamina a atmosfera. Também eu me encontro assim, a melancolia conquistou-me por completo, tornou o sofrimento eterno, o amor intrínseco nos segundos que correm assemelha-se ao infinito, amedronta-me e simultaneamente me fere, as saudades reaparecem como sempre, mas desta vez sei que vieram para ficar e nada mais me resta a não ser dar-lhes a mão e habituar-me à sua companhia, serão elas que irão ocupar todo o vazio que guardo dentro de mim, todo o espaço que restou depois de ter-te oferecido o meu coração, um simples orgão que guarda nele todos os segredos da nossa vida a dois, todos os momentos traduzidos em sentimentos que experienciei com tamanha emoção que hoje sinto-me gasta de sentir tudo e somente me rastar o nada.

1 comentário:

  1. Revejo-me em cada uma das tuas palavras...
    Simplesmente fantástico!!!

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espírito crítico