Words are spaces between us

A alma está para lá das palavras, encontra-se escondida nas vírgulas que separam os sentimentos latentes nas frases ditas inconscientemente.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

A busca

"Existo onde me desconheço, aguardando pelo meu passado, ansiando a esperança do futuro.
No mundo que combato morro, no mundo por que luto nasço."

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"



A vida é feita de opções tomadas que determinam o nosso futuro e que condenam todo o passado, o árduo caminho percorrido até então, construído pelas escolhas feitas que nos levaram até ao que somos hoje, por vezes erradas, outras vezes não. É este misto de indecisão e esperança que cultiva os nossos medos, a insegurança que reside no nosso peito e espalha a adernalina por cada poro do nosso corpo, sufocando-nos a cada respiração.
Cada passo dado é feito em busca da perfeição, a utopia que habita cada recanto do nosso mundo, a projecção dos nosso ideais e de todos os nossos sonhos, o ideal de vida que pensamos um dia poder alcançar. A verdade é que nem nós, os que a procuram incessantemente, sabemos do que é feita, se é construída a partir da matéria dos sonhos e desejos ou das circunstâncias da vida que nos alteram e nos fazem vê-la de uma forma distinta da inicial, no tempo em que a fantasia andava aliada à realidade. Eu também a desconheço, sei da sua existência, mas a sua figura é uma incógnita, um conjunto de códigos por decifrar.
Até hoje já vivi momentos de arrependimento, tomadas de consciência em que revi todo o meu passado e concluí que tomei opções menos certas, não erradas, uma vez que a partir delas sou o que sou hoje, uma pessoa imperfeita, um alguém marcado pelas suas decisões que hoje sabe mais do que saberia caso fizesse as acertadas. Nessas alturas pensei que não conseguiria erguer-me, avançar e aceitar que um dia também eu poderia errar, conceber a ideia de que não sou perfeita, de que a vida é toda ela construída em torno da busca pela perfeição.
Neste preciso momento sei o que sou, o rasto de defeitos que possuo e toda a ambição que carrego no bolso. Continuo a desconhecer o meu futuro, o sentido de toda a minha vida, mas quem o sabe? Não vale a pena parar para pensar no porquê de tudo isto, o pouco tempo que nos resta deve ser gasto na nossa caminhada, na conquista dos nossos sonhos e do sentido da nossa existência, pois o fim da linha é garantido, nada nos pode afastar dele, está presente em cada gesto nosso.
Cada dia é uma surpresa, talvez um avanço ou um recuo, a falta de tempo humano escasseia, mas e o tempo real? Aquele que já existia mesmo antes de nós sabermos ler um relógio, de termos qualquer noção dos números que contabilizam um minuto, uma hora? Desgata-nos saber que tudo o que acontece passa, não fica eternamente lembrando-nos dos momentos de felicidade, foge por entre os nossos dedos num segundo, e faz de nós um alguém sem qualquer controlo do seu destino e do seu passado. No entanto, esquecemo-nos de que o tempo não é nosso, nunca foi, é a única coisa que ainda nos falta manipular, para além do alcance da perfeição ditada pelo Homem.
Contudo, é a incerteza que nos faz avançar, o desconhecido cultiva em nós a ousadia de pisar solos inexplorados, dá-nos a esperança de lutar por aquilo que um dia pensamos que nunca faria parte da nossa vida.
Hoje é o dia em que luto por mim, pela minha vida, por cada segundo que passa e que com ele traz um misto de oportunidades e incertezas, uma mão carregada de nada que um dia se tornará no meu futuro.

8 comentários:

  1. A vida é mesmo feita de opções, só que nem sempre fazemos as melhores e acabamos por cair. Mas também acredito que são essas opções que nos fazem levantar e ser mais fortes.
    O amanhã é um perfeito dsconhecido, a vida é uma incógnita, mas é isto que nos faz viver: é o querer descobrir, é o querer optar, é o sentir que também temos um papel activo e importante. Podemos errar, mas nenhum de nós é perfeito e são esses erros que moldam a nossa personalidade.
    Ainda bem que não podemos controlar o tempo, ainda bem que ele nos escapa como um pequeno grão de areia, porque iamos acabar por gastá-lo inconscientemente. É verdade que, muitas vezes, dava jeito manipula-lo, pois conseguiamos que determinados momentos perdurassem, mas talvez seja melhor assim, por cada coisa tem o seu tempo. O que nós temos de fazer é aproveitar o tempo que nos dão ao máximo e guardar tudo o que com ele fizemos!

    Mais um texto fantástico, adoro ler o que tu escreves*.*

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  2. obrigada, fico feliz ! *.*
    aahh.. eu adorei esse post aqui! :O é incrivél, o jeito que escreves! *.*

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  3. não podia estar mais de acordo com tudo aquilo que disseste, é mesmo isso!
    muito, muito obrigada :$

    beijinhos (:

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  4. Isso foi muito encorejador, e espero que as coisas sejam mesmo assim, que se 'esqueçam'.
    Continua sempre a escrever, tens muito jeito :) beijinhos *

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