Words are spaces between us

A alma está para lá das palavras, encontra-se escondida nas vírgulas que separam os sentimentos latentes nas frases ditas inconscientemente.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Laços

"The day you get your heart broken. The day you meet your soul mate. The day you realize there's not enough time, because you wanna live forever. Those are the biggest days. The perfect days."

Izzie Stevens in Grey's Anatomy



Hoje por momentos deixei-me voar, percorrer os setes ventos que contemplam o horizonte que me preenche, a imensidão do nada que me percorre a pele e voa infinitamente, sem encontro nem pressa, consciente de que o fim um dia baterá à porta da sua vida.

A verdade é que nem sempre sabemos quais são os nossos dias, aqueles que aparecem inesperadamente, disfarçados pela monotonia e que depressa moldam a nossa vida, num espaço de momentos transformam-na de tal maneira que já nem reconhecemos o passado como foi de tão rasurado que ele se encontra neste momento pela mudança. Somos incapazes de reconhecer a nossa alma gémea, a pessoa que foi delineada para ser nossa, para completar cada imperfeição, as cicatrizes abertas que procuram a pessoa certa para as sarar, o caminho para o nosso destino. Estamos tão cegos pela ignorância, pelo medo do sem destino, de voar para longe da vida, do mundo construído sob o olhar de todos os que nos rodeiam, que deixamos escapar o amor pelas nossas mãos, e quando ele se encontra fora do alcance do nosso horizonte, por milagre questionamo-nos se talvez aquele não terá sido o que procurávamos e que não vimos chegar, que não demos pela sua presença no nosso coração, o nosso verdadeiro amor.
Eu deixei o meu escapar com a imensidão do oceano, libertei-o da prisão das paredes do meu coração, neste momento flutua no infinito, fora do meu alcance. Não lhe sinto a presença, no entanto o sentimento, a emoção encontra-se latente no peito, como uma marca que não desaparece, insiste em permanecer à flor da pele.
O meu amor por ti assemelha-se a uma canção, a melodia que embala os nossos corpos cansados da distância, do espaço que nos afasta e que nos une por meros segundos inesperadamente e por vezes propositadamente. Inicialmente, é calmo, acalma-me e mostra-me um horizonte de sonhos e esperanças, longe do presente que hoje vivemos. É imperceptível, não o sinto e duvido da sua existência, mas, como o início de qualquer acústica, é vital, é ele que me guia para o essencial, a paixão, um abecedário de palavras sofridas e apaixonadas que transpiram amor e emoção.
Lentamente me cativaste, cada traço que sou hoje, como uma sombra assombraste o meu coração, tornaste-te na penumbra das noites de luar em que a brisa acalmava os nossos corações, o suor que nos percorria a pele de tamanho desejo. Nessas noites, nos momentos em que fui realmente tua, desejei que me amasses, que sentisses por segundos aquilo que guardava a sete chaves, o medo que o peito revelava envergonhado, os sonhos que desenhava nas folhas de papel dos cadernos que marcaram o nosso primeiro encontro, o início de tudo aquilo que somos ou que fomos.
Até que chega o refrão, um conjunto de frases ditas inconscientemente que revelam tudo o que as pausas das minhas falas guardavam, o amor que te tinha e que crescia lentamente, e que hoje me mata e corrói, como os raios do luar que um dia foram o nosso palco, a plateia de toda a imensidão do nosso amor e as revelações feitas ao sabor da paixão que respirava pela nossa boca, roubando-nos o pouco oxigénio que nos era possível respirar.
O fim chega inevitavelmente, sempre tão pouco desejado por uns, e a fuga de outros. Por vezes custa entender o seu porquê, gosto de prolongar o eterno mesmo sabendo que esse não passa de uma metáfora inventada pelos apaixonados. Gostava de te poder dizer que o nosso amor é eterno, infinito, mas o tempo é nosso inimigo, foge e deixa-nos carregados de rugas e impressões de uma vida corrida e pouco vivida. O nosso amor não foi diferente, gastou-se em segundos e hoje nada dele resta, pelo menos a teus olhos.
Eu calo-o, cativo-o no fundo do meu coração e assim que poder irei expulsá-lo como o fiz antes, não deixarei ficar-te no coração, contamina-lo com todas as tuas promessas ilusórias, as fantasias criadas por um sonhador, alguém que deseja tudo e que na verdade nem conhecimento tem do que é o desejo.
Nunca tentei encontrar a perfeição nas tuas palavras, qualidades que sabia que não faziam parte de ti, daquilo que és. Não imaginas o quão fantástico és, o que me fazes sentir quando passas sorrateiramente ao meu lado, o misto de sentimentos que me provocas com um olhar. Eu queria ter-te como és, todos os teus defeitos guardados na gaveta da qual só eu tenho acesso, dar-te a conhecer o desconhecido, os números e as figuras que contemplam o puzzle em que vivemos.
Diz-me que me amas, abraça-me mais uma vez, longe de promessas de futuro, eu preciso de ti agora, não amanhã. Volta como és, não temas, eu sei que não é fácil, mas ambos somos tudo, um tudo que apenas nós entendemos.

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espírito crítico