Mia Couto, em "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
Sinto-te mesmo não te tendo junto a mim, quando te encontras do outro lado do mundo fugindo da minha presença, desaparecendo sem uma palavra de despedida ou um olhar denunciador. No entanto, eu estou em ti desde do princípio, habito o teu coração em cada segundo da tua existência, vejo-te na escuridão da noite quando o negro invade o meu espírito e a felicidade abandona o meu rosto, evaporando-se na atmosfera que contempla o meu espaço e o torna digno de alguém que o transforme num palco de sofrimento. Encontro-te mesmo quando te perdes no labirinto que és, não sabendo de onde vens ou para onde vais, caminhando sem rumo pelos caminhos que tu próprio desenhaste inconscientemente no fundo de ti, como uma tentativa desesperada de desapareceres, sabendo que na verdade essa vontade nunca passou de um sonho indesejado, neste caso um pesadelo.
As palavras escasseiam à medida que escrevo para ti, na verdade, elas nunca abundaram nos dias do nosso amor, extinguiram-se à medida que nos amávamos e tentávamos inutilmente confessar toda a paixão que nos invadia o peito, que nos fazia estremecer e desejar o impossível que por momentos foi confundido com a realidade, com o presente que vivíamos intensamente. Posso assim concluir que o nosso amor foi feito de silêncios sentidos que diziam mais do que qualquer frase ou poema, transmitiam tudo aquilo que habitava a nossa alma que correspondia aos nossos olhares luminosos que se tornavam céu sempre que deslumbravam o seu paraíso.
A tua voz ainda ecoa no meu ouvido, tornou-se eco e consciência, parte minha que não desapareceu juntamente contigo. Foi o meu pilar no dia em que me abandonaste, a testemunha de todos os dias marcados pelos gritos de agonia e saudade, a porta que me mostrou o novo eu que tanto procurava e que apenas agora encontrei.
Hoje já não somos cópia do que fomos, no entanto existem coisas que não mudam, nasceram connosco e que fazem de nós siameses, almas gémeas que apesar do tempo, do espaço que as distancia, continuam uma só, como um puzzle fragmentado em peças. Tu és a minha metade, a peça que completa a minha vida, o destino que ainda guardo no coração e que quero ver cumprido, o desejo de criança que ainda habita o meu espírito e me faz ser quem era há anos atrás, a pessoa por quem te apaixonaste e que te amou e ama irremediavelmente, de uma forma que nem ela mesma consegue explicar.
O adeus nunca se aplicou a nós, ao sentimento que construímos a cada beijo ou abraço, ao amo-te que proferimos, o qual nunca alcançou a entrada do nosso sentimento, ficando à mercê daqueles que na verdade nunca o sentiram.
Nós experienciámos a metáfora, demos a conhecer ao sonho a realidade, fizemos de nós o que todos pensam ser, verdadeiros amantes.
está muito bonito. nunca conseguimos volta a ser o que fomos, pois não? é por isso que por vezes gostamos de reflectir no que fizemos, e, neste caso, reflectir sobre com quem estivemos. lembrar os momentos e o quanto a pessoa contribuiu para nos tornar no que somos hoje. e queremos sempre que ela volte, mesmo que não tenha partido por completo. queremos que ela volte para continuar a construir-nos, peça por peça.
ResponderEliminarA tua história, a paixão das tuas palavras é fascinante. A mim todos os teus textos me transcendem, me deixam com uma emoção que não sei explicar, como é possível existir alguém com tanto sofrimento no peito, mas ao mesmo tempo com tanta esperança e orgulho naquilo que já viveu? Admiro-te, e a tua escrita é fabulosa!
ResponderEliminarbeijinho*
Gostei bastante do texto , e do blog :)
ResponderEliminarQue lindas palavras! *
ResponderEliminarAdoro o teu blog e os teus textos *.*
ResponderEliminarPosso seguir ? :$