Words are spaces between us

A alma está para lá das palavras, encontra-se escondida nas vírgulas que separam os sentimentos latentes nas frases ditas inconscientemente.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Irrevogavelmente






Hoje sei que me roubaste um pedaço, levaste contigo uma peça do meu ser, aquela que criaste com cada suspiro, arrepio e sorriso, que moldaste com cada palavra e olhar provocador e arrebataste com o bater acelerado do teu coração junto a meu peito, pronto para explodir e libertar uma mistura mística de sentimentos e emoções que eu leio no teu rosto sombrio, quase ilegível que apenas eu sei de cor, que apenas eu detenho a língua tradutora de tais expressões. 
Como eu gostaria de saber como te prender a mim, fazer de mim tu, a tua alma cativa em teu corpo, pronta para fugir por entre cada sílaba proferida por ti, por cada respiração que te mantém vivo e o meu mundo continuo e eterno. Eu sei que poderia amar-te mais do que te amo neste preciso momento, conseguiria fazer de ti aquilo não és para o mundo, unicamente para mim, um ser perfeito, detentor de todas as beldades e desprovido de defeitos , pois todas as tuas virtudes camuflam os teus vícios e te tornam o Vénus em homem, um oásis perdido por entre as areias do mais seco dos desertos desesperado pela chuva que não vêm, que foge, correndo em direcção oposta, contra o vento e o horizonte que a espera impaciente, morrendo aos poucos e tornando-se detentor da maior das fealdades, mais pobre do que o chão do Saara que escurece a cada dia que se esgosta, que se perde no infinito que é o tempo.
És o meu veneno, gastas o meu coração em cada batimento, quando me negas e me afastas, me apagas do destino e me tornas uma sombra perdida por entre a neblina que nasce por entre os teus olhos, tornando-os ausentes, sem qualquer rasto de alma ou compaixão, tornado-te o meu reflexo, vendo em teu olhar o meu ser, o meu corpo vil que se arrasta enquanto te procura sem qualquer sucesso. Intoxicas a minha alma, mata-la com o maior dos prazeres, o ódio passou a ser o teu sentimento no estado puro, ou talvez seja a indiferença, a atitude que mais renego e rejeito. No entanto, és o meu antídoto, a salvação da minha alma que morre por não te ter, que sacrifica a sua vida pela tua eternidade, pela tua perfeição em pessoa, por te ter num mero segundo, por saber que afinal de contas sempre lhe pertenceste, apesar de fugires por entre as suas mãos suadas de tanta dor e agonia sem qualquer força para te prender uma vez mais, deixando-te negligentemente partir, gemendo inconscientemente, provocando a mais bonita das melodias, a de amar verdadeira e incondicionalmente, enfrentando o destino já traçado e o futuro condenado por aquilo que se encontra já escrito, por querer algo que não é seu, que nunca lhe pertenceu, por ousar desafiar algo mais poderoso do que o seu próprio ser. Mas para mim o amor que carrego em meu peito, que me pesa a cada movimento, que me torna fraca e submissa, é a minha fonte de vida, que me torna invencível, nada para mim é mais poderoso e digno de virtude. Ele torna-me pura e ao mesmo detentora do maior dos pecados, desejar o incansável, algo que sei que nunca será meu, que se encontra para lá da parede que separa os nossos mundos, que dita uma língua distinta, tornando-nos indivíduos desiguais, incompreensíveis mas ou mesmo tempo compatíveis, detentores do mais puro dos desejos, o mais bonito dos sentimentos.
Procuro a tua mão gelada, coberta pela palidez que percorre a tua pele e me provoca o maior dos arrepios. Estás escondido por entre as sombras, esperando pelo teu dia, aquele em que saberás que a razão chegou, o momento em que verás qual o verdadeiro significado da tua existência. E eu a ti te chamo, grito e ecoo a minha voz por entre o vazio, por entre o foço negro que se abre entre nós. Cito o teu nome incansavelmente esperando sem esperança qualquer resposta tua. Até que me ouves, me olhas e sorris. Moveste-te e caminhas na minha direcção com esperança no olhar, vendo-me como a porta para o teu novo mundo, para o futuro que tanto aguardaste pacientemente, a razão que tanto procuraste. Abraças-me e consigo sentir o teu hálito a invadir a minha atmosfera, o teu perfume a penetrar na minha pele tornando-a tua e o teu coração a completar o meu, duas peças perfeitamente desenhadas, fragmentadas em duas chaves que formam o maior dos tesouros, o nosso amor.

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espírito crítico