Words are spaces between us

A alma está para lá das palavras, encontra-se escondida nas vírgulas que separam os sentimentos latentes nas frases ditas inconscientemente.

domingo, 29 de novembro de 2009

Sem tempo



O vazio acumula-se no espaço que um dia foi meu, que me pertenceu e me tornou aquilo que sou hoje, um ser solitário, desprovido de qualidades e virtudes, carregado de vícios e devaneios. A escuridão consome a pouca claridade que ainda resta, que infiltra a atmosfera pesada que envolve as paredes e o tecto do meu mundo. A cegueira apoderou-se do meu olhar, apenas vejo sonhos e esperanças condenadas por factos irrefutáveis. O paladar a nada sabe, o sabor doce da vitória e da felicidade há muito que desapareceu, já nem lhe sei o gosto. Apenas ouço o assobio do vento que dança lá fora, para lá das barreiras que contemplam a minha visão apagada, completa por uma escuridão sem igual. Nada sinto, estou paralisada como se uma pedra de gelo fosse, o tudo para mim não existe, vivo na ignorância, no nada que penso que seja o único que existe. Todos os sentidos desapareceram, evaporaram com o sol que se foi, fugiram da chuva que hoje é constante, acompanharam a brisa que morreu.
Eu sei que nada disto faz sentido, vivo numa alegoria sem fundamento ou objectivo, tudo parece uma ilusão, um sonho sem razão, mas é assim que o meu íntimo se faz sentir, perdido no destino, sem sítio para ir nem por onde se guiar.
Ainda guardo as tuas impressões na minha pele, o teu cheiro na memória, as tuas palavras no ouvido. Sacio a saudade com lembranças meias mortas que se gastaram com a sua repetição, passaram de realidades a ilusões, já não distingo o real do surreal. Esqueci a Razão, escondi a Lógica e encobri os argumentos que me levam a esquecer-te a ti e a mim, àquilo que um dia fui a teus olhos. Tudo o que gostaria de fazer desaparecer com um estalar de dedos para acabar com a dor que me consome a cada dia é a esperança que me alimenta, que me mostra um futuro risonho e carregado de felicidade. Como seria fácil se eu fosse a detentora do destino, se o soubesse de cor! Como tudo seria simples, como a Razão da infância, onde uma pequena dedução é uma vitória para nós crianças inconscientes. Mas a minha vida é uma incógnita, eu um paradoxo e tu um ser inconstante, nada nos liga mas também nada nos separa.
Hoje é o dia em que a palavra sai à rua, não há espaço para exitações nem tempo para receios. Já muito tempo se gastou em medos e vergonhas, em palavras que poderiam ser ditas ou esperanças terminadas. Sinto-me no culminar do cansaço, nada me faz temer o futuro, apenas quero lê-lo e sabê-lo. O meu corpo continuará a ser teu, a minha alma pertencer-te-á até ao fim do tempo, do meu tempo.




"E se ao menos tudo fosse igual a ti"

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espírito crítico