Interminavelmente

Hoje toco no fundo de mim mesma, no profundo oceano da minha alma forasteira, que viaja para destinos longínquos do meu ser, distantes de mim, deixando-me vazia de espírito, vulnerável aos ventos da vida, às marés do destino que por vezes se encontram a meu favor, outras contra tudo o que um dia as acompanhou, incluindo eu, sua companheira de jornada.
Lavo o rosto com todas as lágrimas que um dia o percorreram, tento dislumbrar o horizonte que se abre a meus olhos, mas tudo não passa de uma ilusão desenhada pela minha mente que divaga, que foge do futuro que a ameaça com a realidade dura e crua. Nada do que um dia desejei, que estipulei como etapa a seguir é hoje o que quero, o que é melhor para mim. Todos os erros cometidos pela razão inconsequente deixaram-me neste vale de exitações, marcadas por montanhas que me separam do futuro e mares que me afastam do passado, deixando-me incorralada num local sem nome ou descrição. Não há saídas, estradas ou caminhos que me levem daqui, tudo se encontra longe de mim, perto de todos aqueles que caminham ao meu lado, sujeitos sem forma ou cor, sombras de indivíduos que passam sem olhar, ignorando a realidade e ditando a sua verdade.
Aos poucos o meu rosto vai-se deteorando, denuciando o meu verdadeiro eu escondido por entre feições moldadas, construídas a partir de sentimentos fingidos e da negação de outros sentidos. Pedaços voam com a brisa que corre para um novo caminho, traçando o seu destino insignificante a meus olhos, outros permanecem, desfazendo-se com o tempo que se ocupa de tudo o resto, o responsável pelo fim e pelo começo.
A revolta ocorre dentro de mim, onde os sentimentos se confrontam, uns de dor, outros de amor, tornando-me um paradoxo marcado por contradições que eu mesma criei para me proteger do mundo ditado lá fora, longe do vale em que me encontro, que apesar de um cativeiro, é também um refúgio de todos os olhares desconhecidos postos em mim, prontos para me julgar e condenar.
Uma pétala cai em meu ombro, mostra-me a simplicidade do mundo, da vida que um dia vi como uma batalha em que o mais forte vence sempre o mais fraco, a suavidade do toque de uma impressão tão sublime, quase imperceptível.
Ao longe avisto uma luz branca que por momentos me cega e quase me devolve à escuridão onde já me encontrei, nos confins do lado obscuro do meu ser. Esta dá vida àquilo que perdeu a cor, que se anulou com a penumbra que o contemplou, que fez de seu reflexo e de sua alma, consumindo-o caladamente. A claridade chama-me, mostra a paz que se encontra para lá das montanhas, no meu destino ainda por descobrir, enfeitiça os meus olhos com a odiosa esperança, condenando-me ao mundo das incógnitas e justificações.
Tudo o que desejei se abre a meus olhos, oferece-me um novo mundo e a saída deste velho que tanto desprezo e renego. Mas o velho hábito apoderou-se do meu ser, tornando a minha alma dormente e inconsciente, cativa a ilusões e monotonia!