Em memória a ...

Caminho a passos largos pelas ruas que me fizeram Homem e me tornaram pessoa. Olho em redor e apenas vejo figuras desfiguradas, sem cor, sem expressão, sem sentimento no olhar. As suas almas estão apagadas, já não as podemos salvar, estão perdidas no inferno que as consome lentamente.

EU ESTOU VIVA, eu consigo respirar neste mundo marcado pela tua indiferença. Continuo viva, pronta para enfrentar tudo o que sinto, tudo aquilo que acredito. Os sorrisos aparecem, consomem a minha mente, mas para mim tudo continua a ser o mesmo. Corro, fujo do desconhecido, não olho para trás, como poderia?

A luz aparece por entre as nuvens negras que carregam o céu, traz com ela a paz que há muito o Homem deixou de conhecer, traz o amor que há muito se encontra escondido no meu coração.

Eu quero voltar atrás, quero viver tudo de novo, quero refazer tudo o que fiz e fazer aquilo que não fiz por falta de coragem ou medo. Fecho os olhos, tudo continua a ser o mesmo. Nada mudou. O tempo continua a gastar-se, não há por que esperar. A Razão já embarcou no navio das memórias.

O meu coração dividiu-se, agora são dois. Leva uma parte contigo, guarda-me, não me largues. Ele sempre pertenceu ao nosso mundo que desvaneceu, que desapareceu com os sorrisos. 

Diz-me o porquê, responde-me, não me ignores mais. Está frio cá fora, deixa-me entrar, não me deixes à mercê deste mundo obscuro, pobre. Leva-me contigo, dá-me a conhecer-te, não te refugies numa vala abandonada. Eu quero fazer parte do teu destino, quero mostrar-te até onde podemos ir, até onde o caminho está aberto para nós. Há muito que o futuro deixou de ser um entrave no nosso sentimento, há muito que a morte já não significa o fim. O nosso amor já ultrapassou tudo isso, ele é forte de mais.

Em memória dele, olho o novo dia como uma esperança para a felicidade, para o futuro que um dia será meu, meu, nosso talvez!